Frankfurt (notícias sobre KDE no final)

A Alemanha, ou ao menos a parte que conheci, tem como principal atração turística as escadas. A idéia fundamental deles é matar os turistas de
cansaço, mas resisti bravamente.

Posso dizer que tive dois dias de férias graças ao Ralf Nolden e família, que acharam que eu estava com cara de quem estava trabalhando muito e fizeram questão de que eu ficasse mais horas longe do notebook do que perto dele, ainda que tenham proporcionado bons momentos de "intercâmbio cultural" com um "chat" instalado em meu servidor (brod.com.br) e a webcam plugada no CPD da UNIVATES - Big Brother CPD!

Para quem não conhece o Ralf Nolden, ele é o autor do KDevelop, e segundo as boas línguas, o responsável pelo melhor e mais longo tutorial do Fórum Internacional de Software Livre de 2002, quando ficou quase cinco horas numa sessão que deveria ser sobre KDevelop, mas que foi também sobre C++ e programação orientada a objetos. Se durasse mais tempo ia ser sobre o mundo, o universo, e sobre todas as coisas para a qual a resposta é 42 - basta formular bem a pergunta (Douglas Adams, of course).

Mas falávamos de escadas... Chegando em Frankfurt, o Ralf e a Dona Martha, sua mãe, me esperavam no aeroporto para a viagem de pouco mais de uma hora a Mendig, lar dos Nolden. Dona Martha dirigindo a mais de 140 kms/hora pela Autobahn, uma coisa que a minha mãe (aqui copiada), ainda vai ter que experimentar. Enquanto esperávamos o Sr. Ernst voltar do trabalho, o Ralf ajustava o rádio-relógio de um amigo da família e a mãe dele me fazia um breve resumo da infância do Ralf. Com a chegada do pai do Ralf, fomos jantar numa micro cervejaria chamada Vulcan, construída sob um fosso de onde no início do século o pessoal da cidade extraía basalto (mais sobre isto logo adiante). Além da janta ter sido excelente, fui apresentado ao Basalt Fire (na verdade, o equivalente a Fire em alemão), uma bebida que literalmente "pega fogo".

Como estou longe dos destilados (tá bom, dei uma bicadinha), a família do Ralf me deu um litro de presente para que eu trouxesse para a minha esposa.

Dormi no andar inferior da casa, um belo apartamento uns quinze degraus abaixo da sala onde na manhã seguinte tomamos um baita café bem no estilo de Arroio do Meio (famílias alemãs, independente da língua que falam, tem a tendência a super-alimentar filhos e amigos dos filhos - ainda bem!). O que eu não imaginava é que os degraus tinham sido um treinamento para o que viria a seguir...

Mendig é formada por Obermendig e Niedermending, como a Cidade Baixa e todo o Resto de Porto Alegre. A cidade fica nas redondezas de um vulcão ativo (pero no mucho) e o solo é riquíssimo em basalto. Visitei o museu do vulcão e conheci uma mina de basalto, a quase 30 metros debaixo da terra e uns 60 degraus que para descer foram uma moleza. O Peter, uma espécie de curador do museu e nosso anfitrião abriu a mina especialmente para nós, uma vez que estavam em férias de inverno (o pessoal de Mendig é como o pessoal de Arroio do Meio!). A visita à mina daria toda uma história à parte, uma vez que o Peter é um grande incentivador da propagação da história oral, e acha que só assim é que os verdadeiros sentimentos são passados de geração à geração. Ele conta a história das minas de basalto, dos eventuais acidentes (ao mesmo tempo tristes e engraçados) e das maravilhas que os mineiros produziam de uma forma tão intensa, que só quando estamos quase congelando de frio, mas atentos na narrativa, é que ele diz que pudemos "viver" um pouco da história dos
mineiros, ao lembrar do frio constante e da umidade em que eram forçados a viver, em lugares que acabaram servindo para armazenar cerveja nos dias de hoje.

De Mendig seguimos viagem à abadia de Maria Laach, na beira de um lago onde ainda existe atividade vulcânica. A abadia foi construída em 1092, e as obras de arte religiosa que ela tem contam um pouco da história do período renascentista ao barroco. Tem também uma floricultura que deixaria a mulherada completamente louca, e alguns homens que são ligados nestas coisas também. Na igreja, onde pudemos aproveitar o nosso tempo e rezar um pouco, um organista estava ensaiando. Não tivéssemos que seguir viagem, este seria um lugar para ficar um dia inteiro, como praticamente todos os outros que conheci depois.

De Maria Laach a Köln, região da qual os Brod vieram para o Brasil, e só agora entendi o porque! A cidade de Köln e sua catedral são tão bonitas, que resolveram juntar uma turminha e construir beleza igual em outras terras, só que chegaram em Arroio do Meio e se superaram! Mais escada, agora uns 150 metros acima. Quando achava que não dava mais para subir vinha alguém descendo extasiado com a beleza que havia acabado de ver.
Propositalmente, a escada em caracol é a mesma por onde as pessoas descem e sobem. As que descem vem sacaneando e encorajando as que estão subindo, dizendo que tinha um elevador do outro lado, ou dizendo que independente das cãibras, o resultado compensava. E compensou mesmo! A vista do Reno de cima da catedral de Köln é comparável à do encontro do Taquari com o Forqueta na divisa entre Lajeado e Arroio do Meio (pela estrada velha).

Em Köln ainda passeamos pelo mercado de natal onde tomamos o vinho fluorescente (baseado no quentão) e vimos que afinal, o capitalismo até que é divertido, mesmo para quem não tem dinheiro.

De Köln à Lendersdorf, onde mora o Ralf, tive minha primeira experiência ferroviária na Europa. Primeiro com as bagagens. A estação de Köln tem um sistema automatizado, que por dois euros, pega a bagagem, leva para uma bat-caverna, e por mais dois euros traz de volta. O que tem debaixo da terra não dá para ver, mas para mim ainda é coisa dos elfos da Lapônia. Chegando à Lendersdorf, eu já um alemão e o Ralf o próprio, fomos fazer algo realmente típico: comer num restaurante chinês. O melhor que já experimentei até hoje, e imbatível do rolinho à sobremesa de líchia (ah, sei lá, uma fruta, entende?), passando pelo pato.

Na manhã de hoje fomos para uma outra abadia, em Mariawald, comer sopa de ervilha com salsicha, comida típica dos pampas! Hmmm! Nem digo mais nada para não deixar ninguém com água na boca. A abadia é administrada por frades beneditinos, que se abrissem uma franquia, fariam muito mais sucesso que o McDonalds! Na volta, passamos por Heinbach, onde há um castelo medieval de cujo topo dá para se ver toda a cidade. Desta vez tirei uma fotografia da cidade e das escadas. O Ralf ainda comentou que para quem está de visita, ainda é fácil! Pior é para o pessoal local, como ele, que vira e mexe tem que subir e descer com os visitantes.

Lembrei da época que eu morava em São Paulo e eu já não agüentava mais o roteiro Simba-Safari, Horto Florestal, Zoológico e Aparecida do Norte - Benza Deus! (Benza Deus não é outro ponto turístico, é só uma interjeição).

O Ralf pôde ter uma folga do trabalho durante a minha visita à Alemanha, e fez o máximo possível (muito mais do que o necessário!) para que eu também descansasse um pouco. Este é o tipo de preocupação que só notamos em pessoas que gostam realmente da gente. Então, como o Ralf está lendo isto, e como o seu português está ficando melhor a cada momento, deixo aqui um baita abraço e um grande OBRIGADO! para ele, que além de tudo, ainda teve a calma suficiente para me agüentar em véspera de viagem (o que, até então, só membros mais próximos de minha família tiveram a "honra" de experimentar).

O legal desta comunidade sem fronteiras, que acha que o software livre é o maior barato, é realmente juntar as cabeças e ficar filosofando sobre o mundo, o universo, e todas as coisas -- opa! já falei disto! É eternamente descobrir que existem mais perguntas do que respostas, mas que é assim mesmo que tem que ser.

Eu e o Ralf (e até aí, um monte de gente!) somos Católicos. No caminho de volta para Frankfurt viemos conversando sobre a nossa definição de Deus. Ainda que as idéias divirjam em certos aspectos, ambos concordamos que a noção de liberdade, de respeito ao próximo, da bondade sem recompensa, da total transparência, casam com nossa idéia do que é Deus.

Só não descobrimos se Deus é alemã ou brasileira, e se faz parte do KDEWomen ou das GNURias, mas com certeza já deve ter feito o Kernel 2.4.20 funcionar com o ACPI no KDE ;) .

Eu comecei a usar o KDE por causa do Ralf mesmo, em agosto de 2001, no Annual Linux Showcase, de Oakland. Foi naquela coisa de um olhar para o crachá de conferencista do outro e perguntar "tu és o famoso quem mesmo?". Assisti a minha primeira palestra sobre o KDevelop e conseguimos, em maio de 2002, trazer o Ralf para a palestra e o tutorial memorável do nosso Fórum. Toda a vez que eu encontrei o Ralf depois disso ele acaba me perguntando porque eu não uso o KMail (na verdade, me acostumei tão bem com o Mozilla...)? Desta vez, porém, conversando um pouco mais com o Ralf sobre o lançamento que vai acontecer nesta próxima segunda, dia 2 de dezembro, do KDE 3.1, acho que não tenho mesmo escolha a não ser abandonar tudo o que eu conhecia de qualquer outra coisa e mudar para o equivalente KDE - parece que um dos próximos passos é lançar a Kerveja!!!

Os press-releases do KDE vão contar todas as novidades. Então, deixo duas aqui para aguçar o apetite:

1. Impressão no KDE para aplicativos não KDE: basta selecionar o serviço kdeprint em aplicativos como o OpenOffice para poder usar o Kprint e toda a funcionalidade do CUPS. Para quem já tinha experimentado o compartilhamento de impressoras do KDE, e concluído que Windowsxx é bobagem, o negócio está ainda melhor!

2. Já tá no CVS, mas vai ser lançado no release 3.2, o groupware. Claro, escrito em C++, com o KDevelop. Bye, bye outlook! Pessoall! Inscrevam-se nas listas de desenvolvimento do KDE!!! Este negócio vai estourar a bouca do baulão! Ou a boica do bailão! Temos que ter uma versão PT-BR deste groupware lançada em conjunto com o KDE 3.2. Já que estou offline, voluntario aqui o Maragato para que coordene este projeto para o PT-BR!!! (se é que o Maragato já não está envolvido... em termos de KDE, quando eu estou indo ele já foi, voltou, e está mostrando as fotos da viagem para todo mundo...).



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