Educação e Tecnologia - Ambiente Pessoal de Aprendizagem #4

Ainda dentro do ramo Captura Imaterial de informações em meu ambiente pessoal de aprendizagem há a subdivisão Áudio Visual. Navegando no mapa mental abaixo, feito com o mindomo, ficam evidentes algumas conexões entre os meus elementos de aprendizagem. Por exemplo, uso as facilidades agregação automática através da assinatura de canais no Youtube e a curadoria do Peter Gabriel no TED, mas ao mesmo tempo vou usar o Youtube para assistir a algo divertido que recebo em um link de um amigo no Facebook. Os filmes e as rádios em francês que procuro assistir e ouvir estão conectados à ações mais formais do ramo relativo à atividades mais estruturadas de aprendizagem, servindo como apoio e reforço a elas.



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Mas nem tudo deve ser tão sério. A mente precisa de descanso e distração, ficar em estados onde a quantidade de informação que absorvemos possa sedimentar, ser tratada. Nem todo o papo precisa ser cabeça, nem todos os livros e filmes que assistimos precisam nos "acrescentar algo". Você já notou que há vários componentes de minha captura de informações que são pura diversão. Isso não quer dizer que no meio da diversão não venhamos a aprender coisas novas. Há poucos dias, assistindo a um episódio de Elementary com a minha mulher, fiquei sabendo da linguagem esotérica de programação Malbolge, criada com o único propósito de ser impossível de se escrever qualquer programa com ela - mas uma falha em sua concepção fez com que, de fato, programadores viessem a usá-la (ao menos como desafio).

Ao construir o mapa mental de meu APA dei-me conta de algo a qual eu sequer havia prestado atenção: televisão, jornais e revistas impressas não contribuem, na prática, para a minha aprendizagem e, há bastante tempo, sequer são significativos para o meu lazer. Assim que meu dia começa leio meus emails e passo os olhos em meus agregadores de conteúdo e as postagens nas redes sociais. O que acabou acontecendo foi que tudo o que eu assistia nos noticiários de TV ou lia nos jornais já era conteúdo antigo. A cada notícia que me interessava eu já havia feito o aprofundamento necessário em seu conteúdo usando a própria Internet. E quanto aos seriados que gosto de assistir, as ferramentas disponíveis hoje nos computadores permitem que não fiquemos escravos aos horários em que eles são transmitidos.

É bastante diversa a ramificação de Captura e é normal que seja assim. Nossas fontes de informação são muitas e crescentes. Isto não quer dizer que, diária e metodicamente, eu leia ou assista a tudo o que está nos componentes deste ramo. Isto não chega a ser frustrante pois descobri que aquilo que é importante que saibamos, ou o que deve fazer parte do nosso processo de aprendizagem, acaba por ser ressaltado e vitaminado na nossa interação com outras pessoas.

O ramo Interação é, sem dúvida, o mais importante de meu APA. Tudo o que aprendemos é através da captura de algo produzido por outra pessoa e sempre temos algo o que aprender de qualquer pessoa. Por que não, então, ir direto à fonte?

Minha mãe diz que eu nasci sem nenhuma vergonha na cara. Acho que isto é de grande valia na minha aprendizagem, ainda que muitas vezes eu só consiga avaliar a importância disto depois de fatos consumados - e tenho bons exemplos e histórias divertidas sobre isso. Vou contar uma delas.

Em 1989 estive na escola da NCR em Saint Paul, Minnesota, fazendo um curso sobre o processador de comunicação NCR COMTEN. Um dos instrutores era o Jim Wild, que apresentou-me ao livro "The Mythical Man-Month", do Fred Brooks Jr, que é, até hoje, um de meus livros de cabeceira. Eu gosto tanto deste livro que vivo emprestando ou dando de presente pra muita gente. Assim, no início dos anos 2000 eu já não tinha mais nenhuma cópia do livro.

Em 2003 realizamos a segunda edição do SDSL - Seminário de Desenvolvimento de Software Livre na Unicamp e o André Wolff havia montado, no evento, um estande da Livraria Tempo Real. "The Mythical Man-Month" estava a venda e contei para o André a historinha do parágrafo acima. Eu estava sem dinheiro e mal conhecia o André, mas ele gostou da minha história, entregou-me o livro e disse que eu poderia pagá-lo quando pudesse - o que fiz muitos anos depois.

Em 2009 o André foi trabalhar na Campus-Elsevier e, sabendo da minha paixão pelo livro do Brooks, pediu-me que o traduzisse para o português. Durante o processo da tradução, decidi entrar em contato com o autor. O senhor Brooks escreveu o livro em um inglês muito elegante e eu não queria que tal elegância fosse perdida em uma tradução puramente técnica. Muitas vezes eu traduzia vários parágrafos para o português, deixava passar um tempo e traduzia de volta para o inglês para perguntar ao senhor Brooks se era aquilo mesmo que ele queria dizer (minha ideia era manter a elegência mas sem comprometer a intenção original do autor). Algumas vezes eu acertava, outras errava, mas na medida em que a tradução evoluía meus acertos eram maiores que os erros. Ao final da tradução o senhor Brooks disse que havia ficado muito satisfeito com a nossa interação, já que outras traduções apareciam pelo mundo sem que ele tivesse qualquer contato com o tradutor.

Ainda no mesmo ano, minha empresa estava coordenando o temário da Latinoware 2009. Aproveitei a oportunidade para convidar o Fred para o evento, aproveitando que a tradução do livro acabara de sair do forno. Conheci, então, pessoalmente o meu ídolo! A pedido dele acabei traduzindo também o The Design of Design, também para a Campus Elsevier, sob a batuta do André Wolff.

Acho que não preciso dizer o quanto aprendi nesta interação direta com o meu ídolo e autor de obras seminais de Engenharia de Software. Mas eu fui dar-me conta da grandiosidade do que vivi ao ler o livro a Lição Final, do Randy Pausch, em meados de 2010. Pra quem não sabe, o Randy Pausch era um professor da Universidade de Carnegie Mellon que descobriu, em 2006, que tinha câncer no pâncreas e iria morrer. Ele resolveu, então, tomar uma atitude positiva e viver os seus sonhos nos dias que lhe restavam. No dia 18 de setembro de 2007, dia em que completei 44 anos, Randy ministrou a palestra A Lição Final - Vivendo, de verdade, seus sonhos de infância. Menos de um ano depois, em 25 de julho de 2008, ele morreu. No capítulo 55 do livro, com o título "Basta pedir", Randy conta que um de seus sonhos era conhecer o Fred Brooks Jr e que, com trinta anos de idade, tomou coragem para contatá-lo e pedir para visitá-lo, sendo muito bem recebido. Randy Pausch achou essa interação com Fred tão importante que, antes de morrer, decidiu registrá-la em seu livro. Já eu recebi, como presente, o contato e a amizade com o senhor Brooks.

As interações devem ser muito valorizadas e, como disse o Randy, basta pedir! Creio que, depois desta historinha, o ramo Interação do mapa mental de minha APA é auto explicativo. Até o próximo artigo!

Publicado originalmente no Dicas-L.

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