3eras Jornadas Regionales - Um breve relato...

A coisa que mais me impressionou nestas 3ras Jornadas Regionales de Software Livre da qual eu, a Vivi, a Figui e Marceli aqui da UNIVATES tivemos a honra de participar foi a admiração que a comunidade latina de software livre tem de nosso trabalho aqui no Rio Grande do Sul. Nossa Universidade é citada como um exemplo a ser seguido quando se fala em apoio institucional e investimento em desenvolvimento de soluções. Não só na apresentação que fiz, mas em vários momentos, as pessoas vinham conversar comigo sobre nossos produtos, especialmente sobre o GNUTECA, em função da divulgação que a UNESCO fez (a quem devo a possibilidade de minha participação). Ao que tudo indica, devemos ter o início dos trabalhos de tradução para o espanhol de vários de nossos projetos ainda antes do final do ano, o que aumenta a possibilidade de termos contribuições de código também.

O evento ocorreu na Faculdade de Ciências da Universidade Federal do Uruguay, que tem cerca de 35.000 alunos e 3.000 docentes e funcionários e acaba de iniciar um plano de migração total de seus sistemas administrativos para o software livre em dois anos. O Professor Heber Godoy, que participou do painel de abertura, foi extremamente crítico com relação à situação atual dos cursos da área de informática. Nas palavras dele: "Os currículos atuais da grande maioria das Universidades formam operadores de computadores, e só. Há currículos que chegam ao ridículo de especificar softwares específicos, especialmente da Microsoft. Nossas Universidades fazem propaganda gratuita para a Microsoft e limitam o estudante a uma marca específica.". Mais adiante, falando sobre a informática na educação, o Professor fala sobre a utilização da Internet: "A Internet, por si, não aporta nada a um projeto didático, apenas conteúdo. Muitos docentes acham que fazem uma grande coisa em incentivar os alunos a usar a Internet, mas sem pensar didaticamente um propósito para isto. Usam a Internet por ser algo moderno, se acham modernos, mas a usam de forma primária.". O professor aponta que a adoção do software livre nas Universidades aponta para mudanças em outros aspectos da academia: "Mesmo os nossos sistemas de avaliação incentivam o egoísmo.". O professor, por exemplo, permite abertamente a "cola" em suas provas, e já aplicou provas "cooperativas", deixando a avaliação com uma turma e instruindo-os a responder em conjunto: todos seriam aprovados, ou reprovados.

A melhor apresentação que assisti foi a do Enrique Chaparro da Fundação Via Libre, sobre
desenvolvimento de software. Praticamente tudo o que ele recomenda nós
aplicamos aqui de uma forma ou outra.

O Anahuac de Paula Gil, já nosso conhecido de outros eventos, mostrou a utilização do FreeDos na migração de um sistema de gestão de hotéis baseado em Clipper.

Outra apresentação instigante foi a do Etienne Delacroix, um belga que usa a informática como arte. Ele define a pintura como uma partitura de gestos, e diz que o artista tem que ter o conhecimento do meio subjacente ao qual executa a sua arte, e por isto ele só consegue programar algo porque pôde desconstruir e conhecer um computador em todos os seus elementos. Para ele, qualquer linguagem de programação se resume a um número de palavras reservadas com as quais se constrói um universo textual específico. Programar é fazer arte com palavras.

A Microsoft, estranhamente patrocinadora do evento, apresentou o "Rotor", um produto para o desenvolvimento de aplicações na plataforma .NET que possui a licença mais estranha que eu (e muita gente) já vi. É gratuito, de código aberto, mas não se pode desenvolver produtos comerciais com ele. Se alguém desenvolve um produto com o Rotor, nem mesmo a Microsoft pode comercializá-lo, uma vez que está sujeita à mesma licença (é um pouco mais complexo do que isto, mas em resumo, é isto). Parece-me que a Microsoft está querendo espremer o máximo de seu modelo de negócio atual enquanto mina o modelo do software livre e ganha tempo para montar sua estratégia de serviços para os produtos .NET que estão surgindo.

As GNURias, como sempre, roubaram a cena! Arrisco-me a dizer que elas são o grupo de usuários de software livre mais famoso do mundo. Enquanto acontecia a minha apresentação, a Ana Paula (UNIVATES) e a Raquel (UNISC) foram tiradas da sala porque estava acontecendo um painel sobre software livre nas Universidades e os organizadores do evento decidiram que elas teriam que estar presentes - vale dizer que a UNISC também está se mostrando bem agressiva na sua política de apoio ao software livre (legal, UNISC! - dá-lhe Raquel e seus GNU-Boys). Conseguimos ainda correr para a apresentação das Universidades assim que terminou a minha. A Raquel e a Ana já estão aprovadas como palestrantes internacionais! Foram as mais fotografadas da mesa (um argentino ficou, porém, com as fotos). Aliás, diga-se de passagem, como aconteceu no Fórum Internacional de Software Livre, as fotos das GNURIAS que os fotógrafos colocam à venda são vendidas rapidinho... Mais uma vez, ficamos sem nenhuma :( - É uma grife poderosíssima!

O Maddog fez mais uma vez o discurso de encerramento, mostrando idéias específicas de utilização do software livre no Uruguai e apontando para possíveis novos negócios. Com humor, apresentou uma garrafa térmica com "embedded linux": "Já que vocês estão sempre carregando este negócio para cima e para baixo, porque não associá-la a um PDA, um telefone celular, adicionar poder de processamento à garrafa térmica!".

Afora as Jornadas, com todas as palestras de excelente qualidade, a recepção de nossos hermanos não poderia ter sido melhor. Apesar do pouco
tempo, todos os que estivemos no Uruguai pudemos travar um bom conhecimento com Montevidéu, Punta de Leste e arredores. Cassinos, Parrilladas, Crepes de Doce de Leite. Quem não foi, que se prepare para estar presente na próxima!



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